O livro
“Nhá Chica a mãe dos Pobres” traz novos documentos que foram encontrados
recentemente. Foi em 2015, depois de dois anos da beatificação de Francisca de
Paula de Jesus – Nhá Chica, que o advogado, historiador e pesquisador de
Caxambú, Antônio Claret Maciel Santos encontrou no acervo da paróquia de Santa
Maria de Baependi, o Livro de Óbitos da Igreja Nossa Senhora do Montserrat,
relativo ao período de outubro de 1841 a maio de 1869, folha 4, onde consta o
óbito e testamento de Izabel Maria da Silva – mãe da Nhá Chica.
Na
época, o vigário Interino, Julião Carlos Rangel da Silva fez o assento do
documento e assinou. Ele escreveu que no primeiro dia do mês de novembro de
1843, Izabel Maria da Silva, parda, solteira recebeu os sacramentos e faleceu
com febre.
Precisamos
entender a questão de como eram categorizados e denominados as questões raciais
no Brasil da época. No artigo “Escravidão
e Cor nos Censos de Porto Seguro Feliz (São Paulo, Século XIX)" escrito
pelo dr. Roberto Guedes, doutor em História Scial pela UFRJ, professor
do Departamento de História e Economia da UFRural-RJ, publicado nos
Anais do XXVI Simpósio Nacional de História - ANPUH, São Paulo, em
julho de 2011; explica que “nos mapas de população da vila,
classificam-se brancos, pardos, mulatos e pretos livres, isto é, pardos livres,
pretos livres e mulatos livres” e que essa avaliação era feita por
responsável das
listas e dos mapas, mas não invalidava a ideia de haver um critério
pontual e outro genérico, bem como uma correspondência entre preto e
negro, de um lado, e pardo e mulato, de outro; sendo o pardo mais
claro que o mulato.
Dr. Roberto Guedes diz que: “de
qualquer modo,
tudo indica uma caracterização pontual e personalizada nas listas uma
vez que mesmas pessoas/famílias frequentemente mudavam de cor. Em 1803,
Alexandre de Madureira e sua esposa Inácia Maria eram negroa, mas em
1808, ambos eram pardos. Antônio de Pontes e sua esposa, Beatriz Maria
eram mulatos em 1813 e negros em 1818. Não sei porque enegreceram, mas
nunca foram pardos. Outro que mudou de cor foi Antônio Gonçalves. Em
1803, 1808 e 1818, eram brancos. Geralmente, quando a cor do chefe do
domicílio se modificava, as de seus parentes, filhos, cônjuges,
seguiam-na. Provavelmente, a alterações das cores reforce a
possibilidade de os recenseadores lançarem mão de um critério pontual
dirigido a determinadas pessoas em certas situações (no que as relações
pessoais podiam interferir), bem como remete ao lugar social conforme as
circunstâncias sociais."
Então o
vigário que escreveu o assento de óbito da Nhá Chica denominou Izabel Maria da
Silva de “parda”.
Outra questão
é a fotografia que reproduzi do livro “Nhá Chica a pérola escondida”, de frei
Jacintho Palazzolo; historiador que nos deixou importantes obras como: “História
da cidade de São Fidélis: 1781-1963”. O religioso ao publicar a fotografia deu-lhe
todas as referências, ele a recebeu de Adolfina Noronha de Figueiredo Pelúcio,
viúva do historiador José Alberto Pelúcio, que no verso da imagem escreveu: “Francisca
de Paula (Nhá Chica) ainda relativamente moça.” Pelúcio é de Baependi, escreveu
a obra “Baependi templos e crentes”, tinha ética em suas publicações e ainda
mais no que escrevia, não podemos dizer que ele errou ao referenciar a foto.
Mas
ficou a questão qual é essa época em que Francisca de Paula era
relativamente
moça? Se a mãe dela faleceu em 1843,ela poderia ter de 33 (no Registro
Tardio consta
o ano de 1810 – batizado de Nhá Chica) a 35 anos... ou até mais. Eu
coloquei no
livro, na página 28, que “talvez” esse retrato seja de quando ela tinha
35
anos, por causa da influência de seu irmão Theotônio no comércio,
política e
religião em Baependi. Na verdade não sabemos a época, por isso não dei
certeza, levando em conta que em 1843 faleceu a mãe de Nhá Chica e então
ela resolveu
mudar-se para a Rua das Cavalhadas e fazer seu voto de pobreza. O meu
talvez é porque essa fotografia pode ser dela com mais idade, até mesmo
40 ou 50 anos.
Outra questão
é que na fotografia ela aparece com a tez mais clara do que atualmente as
pessoas esperam. Podemos levar em conta que uma chapa fotográfica (pesava 8
quilos na época, meados do século XIX) tinha de ser um registro bem feito, não foi ao ar livre e
para isso o tempo de exposição era maior, e podia deixar a pessoa mais clara, pois entrava
mais luz. Essa superexposição era comum. Eram raras as fotografias nessa época,
só mesmo pessoas de posse podiam ter o privilégio desse registro. Se Nhá Chica
se arrumou toda, com vestido florido, para que Henrique Monat fizesse um registro
fotográfico dela (1895), não podemos descartar essa outra fotografia apenas porque não
sabemos a data em que foi feita ou por causa da cor da pele. Agora entendo frei
Palazzolo quando fez questão de colocar tantas referências a respeito da foto.
Consta
no livro outro documento importante recentemente encontrado pelo
pesquisador irmão José Maciel C.Ss.R., o registro do casamento de Maria
Joaquina (irmã de Nhá Chica) com João Garcia.
Eu
não
coloquei no livro esses novos documentos e a fotografia para criar
problemas;
mas para lembrarmos que a beata Nhá Chica nos deixou um legado de fé e
humildade. Recebi esses documentos em 2015 e fiquei em oração e
discernimento para saber se deveria mostra-los em uma publicação. Ainda
mais que haveria uma desconstrução de uma parte da história do primeiro
livro biográfico que escrevi sobre a beata Nhá Chica, assim como
aconteceu com as referentes obras de todos outros biógrafos. Optei pela
humildade de mostrar esses novos documentos e de relembrar uma antiga
fotografia que foi publicada em 1958. A perseguição que estou recebendo
por causa de expor essas verdades está grande, mas maior é a
Misericórdia de Deus.
Meus
avós quando vieram da Sardenha (Itália) foram trabalhar em Baependi, lá
se conheceram e depois de casados, morando na Faisqueira (reduto de
italianos perto de Pouso Alegre) voltaram para trabalhar em Cruzília e
Caxambú, por gostarem de ficar perto de Baependi. Minha avó Josepha
Patta Seda, me ensinou a rezar o terço da Nhá Chica, o qual oro há mais
de 50 anos. E é esse o tempo, também, que frequento a casa de Nhá Chica e
igreja Nossa Senhora da Conceição, bem antes de ser santuário, bem
antes de ter tantas peregrinações a Baependi. Nesses anos todos eu
compartilhei com parentes e amigos a vida de Nhá Chica e ensinei muitas
pessoas a orarem o terço; dezenas delas conseguiram milagres, alguns
desses milagres eu enviei para constar no processo de canonização de
Francisca de Paula de Jesus. Muitos foram os milagres que a santinha de
Baependi conseguiu para minha vida e de minha família, através da
intercessão da Imaculada Conceição junto à Santíssima Trindade. por isso
diariamente eu digo: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. E agradeço
a beata Nhá Chica pelos benefícios que consegue a todos que oram para
ela.
Pedidos para Editora Santuário.